domingo, 24 de janeiro de 2010

Insânias noturnas



Repousa em mim uma dúbia certeza
De quem precisa escapar para poder ficar
De quem quer mais sem poder doar
De quem precisa gritar para poder calar
De quem deseja amar sem ter que se aprisionar
Instalou-se em mim um paralelo universo


R.R.Sant'anna




terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Aquarela


Todo meu céu visto de baixo
Uma aquarela berrando cores
Suplicando à poetisa um simples verso
Ao menos uma linha de consideração

Mas este é o momento da ausência
A hora introspectiva
Então só me resta silenciar
E deixo o azul falar por mim


R.R.Sant'anna

sábado, 16 de janeiro de 2010



Infinito Universo
O verso do avesso



R.R.Sant'anna

Bucólicos dias


Mal amanheceram esses dias bucólicos
E uma neblina insana pairou-se no ar
Eu não podia ver nada, nem minhas cálidas mãos

O amarelo das folhas expeliam calmarias no vento mórbido
Entretanto, por um instante, um súbito mal me ocorrera
As apaixonantes vibrações que antes alegravam a paisagem
Transformaram-se em réstias de irretornáveis dias

Loucas horas passaram despercebidas
Minutos completamente desperdiçados
Segundos que pulsaram para o infinito nada
Milésimos momentos de concretas ruínas

Mas recordei-me da aurora
Das vestes cintilantes
Do relógio que ainda estava por vir

Então meio que de repente
pássaros acenando beijos
Avistei sóis e luas bailando nas ruas
E todo aquele horizonte respirava a paz em mim



R.R.Sant'anna



quinta-feira, 14 de janeiro de 2010


V
I
D
A

EM TRÂNSITO



R.R.Sant'anna

Andava a lua nos céus


Andava a lua nos céus
Com o seu bando de estrelas

Na minha alcova
Ardiam velas
Em candelabros de bronze

Pelo chão em desalinho
Os veludos pareciam
Ondas de sangue e ondas de vinho

Ele, olhava-me cismando;
E eu,
Plácidamente, fumava,
Vendo a lua branca e nua
Que pelos céus caminhava.

Aproximou-se; e em delírio
Procurou avidamente
E avidamente beijou
A minha boca de cravo
Que a beijar se recusou.

Arrastou-me para ele,
E encostado ao meu hombro
Falou-me de um pagem loiro
Que morrera de saudade
À beira-mar, a cantar...

Olhei o céu!

Agora, a lua, fugia,
Entre nuvens que tornavam
A linda noite sombria.

Deram-se as bocas num beijo,
Um beijo nervoso e lento...
O homem cede ao desejo
Como a nuvem cede ao vento

Vinha longe a madrugada.

Por fim,
Largando esse corpo
Que adormecera cansado
E que eu beijara, loucamente,
Sem sentir,
Bebia vinho, perdidamente
Bebia vinha..., até cair.

(António Botto)

Última estrela


Última estrela a desaparecer antes do dia,
Pouso no teu trêmulo azular branco os meus olhos calmos,
E vejo-te independentemente de mim;
Alegre pelo critério que tenho em Poder ver-te
Sem "estado de alma" nenhum, sonho ver-te.
A tua beleza para mim está em existires
A tua grandeza está em existires inteiramente fora de mim.


Alberto Caieiro - Poemas Inconjuntos - Fernando Pessoa

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

terça-feira, 12 de janeiro de 2010


Poéticas em constante mutação!


R.R.Sant'anna

Cinéma expérimental





Arte televisiva


Arte Concreta

Arte Impressionista


R.R.Sant'anna

(DES)CONSTRUÇÃO




R.R.Sant'anna

Verger in Bahia - Cotidiano material, simbólico e imaginário


"A sensação de que existia um vasto mundo não me saía da cabeça e o desejo de ir vê-lo me levava em direção a outros horizontes"

(Pierre Verger)

The beast


"A música é capaz de reproduzir, em sua forma real, a dor que dilacera a alma e o sorriso que inebria".

(Ludwing Van beethoven)


Fogo Azul


Ao romperem os diques das horas
Ao ladrar dos lobos
Ao escorrer a brisa lunar
No seio noturno quero estar

Preencherei as rachaduras do tempo
Prepararei o alimento
Tomarei o café de todas as manhãs
Perfumarei as folhas do seu jardim

Não quero efemeridade
Quero preencher as rachaduras do tempo
Quero as estações ultrapassar
Esperarei o frio e as flores
Para que no calor possa te adorar

Este mar lança-me fogo
Ah o que é este fogo azul?
Essa chama que vem e traz?

Que arrepio quente é esse?
Que aumenta o desejo de atravessar
O mar que habita em seu olhar

R.R.Sant'anna

Ao entardecer





Quero inclinar na sua janela ao entardecer
Magia em amarelo-fogo
Nessa hora em que bate um vento de saudade

Toco a atmosfera onde reinam as caducas
Outra frente chega
Outras hão de passar
Cheiro o úmido polar

E ao findar dessa paisagem
Acordam cores no horizonte, tuiuiús retornam ao ninho
Beija-flores destilam o suco da terra
Simininas cirandam sob as luzes de luanas

Desposam na rede caminhos que se encontram
Repousa em teus lábios o jambo-anil
Em teu olhar, beijo de terra molhada
No tato, lembranças de tabaco
No peito, negraria encaracolada de céu e mar

Mãos que não querem calar
Contemplam olhares em assombro
Respiram seriedades eruditas
Notas em feliz melancolia
Reescrevem-se num mundo de bem e de querer...

R.R.Sant'anna

Quero estar em ti


Não sou Pessoa, nem Botto
Muito menos Rosa ou Andrade
Versos modestos compõem a oferenda

Apenas um reflexo sou
Do sorriso sonhador
Imaginativo ser na solidão

Das jazidas do meu pulsar
Brotam escondidos verbos
Nascem chamas em prosa

Derrete a cera para orar-te
Não te esqueças do nosso livro da vida
Senão tudo será falácia
Tudo que contornamos não passará de engano
Tornar-se-ia mancha o imaculado perfume

Poetizaste minha existência
Imortalizaste a íris da alma
Não deixes nosso mar virar lago
Que não deixo nosso céu tornar-se branco

R.R.Sant'anna

Adormeci no MAR



Depois de toda aquela agitação noturna,
depois de ver o balé das arraias voadoras,
depois de arder no abraço da medusa,
de quase sufocar nos tentáculos de flores,
de me banhar no azul-celeste,
de sentir o cardume rosado a me relar no seu vai-e-vem,
de mergulharem nas marianas do relevo,
de ecoar o canto da sereia...

dormi nas águas serenas do meu MAR...

Lua era sol a vibrar em mim ...

um punhado de estrelas piscavam infinito...
cavalos, lobos, leões...
todos aqueles seres a me fitar...
não conseguiam entender como um céu todo poderia deitar-se nas águas daquele MAR...

Ah meu MAR!...

imensidão de querer, de palavras tiradas do vento, clássica vibração nos tímpanos, ópera desconcertante, vozes velejantes, correntes que levam e trazem, águas de sal transformada em doce...

com tua fonte, nunca serei Saara...
nunca virarei Atacama...
Serei sempre Amazônia, Pantanal ou Cerrado...
Serei Chapada dos Guimarães...
bebo da tua água... porque sem ela,...
sem ela já não posso mais...
morrerei de sede...

no deserto das almas


R.R.Sant'anna